Texto: Anderson Awvas

A Pequena Yara

ATENÇÃO: O projeto a seguir está em desenvolvimento para uma futura adaptação em quadrinhos ou animação. Este resumo está em constante atualização. Qualquer dúvida envie um e-mail para ola@folclorebr.com

O argumento:

Yawara é a criança mais velha da geração atual da sua grande família, que descende do povo indígena Araúna*, e procuram manter algumas de suas tradições vivas, mas, ao mesmo tempo, se mesclam aos atuais paradigmas sociais e religiosos.

Algumas vezes em seus sonhos, o jovem consegue conversar com a entidade Naiá, também conhecida como a estrela das águas (Vitória-régia), e confessa a ela que se sente como uma menina presa em um corpo errado e por isso sofre por não concordar com questões políticas da sua família, a qual possui tantas discordâncias. Naiá lhe diz que isso não deveria impedi-la de ser quem ela é e que o melhor seria assumir o seu grandioso caminho sendo honesta com seu verdadeiro interior.

Em uma visita a casa da sua avó, ela decide contar para sua mãe sobre suas vontades, seu pai ouve e surge vociferando – Você é uma abominação! Saia daqui! Você não merece fazer parte deste povo e muito menos me suceder como um verdadeiro líder! – e ameaça atacá-la. Confusa, a menina corre e no caminho se acidenta escorregando em pedras e caindo em um rio que fica próximo a casa e é levada por uma forte correnteza.

Ela acorda no fundo do rio podendo respirar e se percebe diferente. Acolhida por homens-peixe que vivem no fundo do rio, foi levada para uma espécie de grande palácio que fica em um lençol freático no subterrâneo da cidade onde vive.

Neste lugar, Yara, a rainha dos rios, recebe Yawara e troca de corpo com ela para que pudesse sobreviver ao seu acidente. Yawara passa a ser reconhecida como a Yara, possui uma nova forma e permanece junta desses seres mágicos por algum tempo tentando entender o que aconteceu para ter passado por essa transformação.

Tempos depois, tomou conhecimento que seu pai apoiou a inauguração de uma empresa que está poluindo os rios, resolve retornar para sua cidade decidida a tomar o seu lugar, destruir a empresa e levar seus pensamentos para sua família.

Junto do emotivo Piraya, um peixe piranha vegetariano, Yara parte na mais importante jornada da sua vida em busca de reconhecimento, defesa da natureza e, paralelo a isso, tentará entender o mistério que envolve sua transformação neste ser místico cheio de habilidades.

*O povo indígena Araúna não existe e faria parte do aspecto ficcional do argumento para a história.  

Artes e Referências

Nessa arte mergulhei junto do clássico “A pequena sereia”, animação de 1989, para dar vida a uma baita repaginação da lenda da sereia Yara.
  
Comecei a ilustração me baseando em uma criação anterior e decidi elaborar melhor unindo à outros elementos poucos convencionais, já que a lenda possui muitas versões. Yara é a mãe das águas, a personagem traz em si uma mistura das sereias europeias com algumas histórias regionais de povos originários e consequentemente une-se a representação de Iemanjá, entidade das águas, vinda da matriz africana.

Existe a possibilidade de que a Iara como conhecemos no folclore tenha influência também de um ser chamado Ipupiara ."O Ipupiara é um dos mitos de mais antigo registro na história do país. Seu relato está presente, junto com os do Curupira e do Boitatá, em uma carta escrita pelo jesuíta José de Anchieta ainda em 1560. Escreve ele: “Há também nos rios outros fantasmas, a que chamam, Ipupiara, isto é, que moram n'água, que matam do mesmo modo aos índios” (ANCHIETA, 1933)." - Podcast Popularium "O Rosto da Iara", vale conferir.

É sempre importante frisar,  mesmo tendo nomes similares ou histórias parecidas, lendas e mitos do folclore tem aspectos muito diferentes dos possíveis homônimos em cosmologias culturas indígenas. Da mesma forma que existem sereias europeias, existem sereias brasileiras e suas histórias não serão iguais ou cópias uma das outras e sim derivações que originam uma NOVA história referente ao contexto de sua localidade. 

Diante da informação que a Yara pode ter sido atravessada por ser masculino (Ipupiara) pensei em trazer uma personagem trans para o projeto com um pouco mais de representatividade e trazer uma discussão (mesmo que de maneira mais “leve”) sobre questões de identidade de gênero para crianças. Além de criar um paralelo para representar a trajetória das mudanças que uma mulher trans passa durante a vida através de diversos símbolos, que poderia ser uma boa forma para discutir diferentes questões como inclusão social indígena e a relação de grandes empresas com a natureza.  

Quanto aos demais elementos, coloquei o peixe piranha inspirado na espécie Piraya para ser o ser mascote. Na Yara, procurei adicionar esponjas e musgos ao que seriam o “cabelo” da Yara e a calda seria como a de um peixe beta e como ela estaria batendo as pernas daria essa impressão de que seria uma calda só (pois elas estão indo em lados opostos). Yawara significa “cachorro” e Araúna (o povo fictício) significa “ave preta” em Tupi Guarani.